''Acho que essa é a questão central. Ninguém sabe ao certo o impacto que tem na vida dos outros.''
''Eu sou Hannah Baker, e hoje vou falar em como cheguei no meu fim.''
13 Reasons Why é uma série da Netflix onde conta a história de uma menina, conhecida como Hannah Baker, que infelizmente se suicidou, devido o constante bullying que vinha sofrendo de seus ''amigos''. A personagem se vê num beco sem saída, rodeado por arames farpados que nunca irão embora, então ela cria em sua mente devido o trauma que sua única opção é aquela... Antes, ela grava os 13 porquês que a motivaram a fazer tal coisa, mostrando que suicídio não é algo banal, não é algo que se faz em busca de atenção... é algo que precisa ser debatido entre todos. Algo que deveria ter sido extinto há tempos, mas por alguma razão, não foi.
''Eu quis ligar para alguém. Contar o que tinha acontecido, e que doía. Mas não havia ninguém ali. Ninguém com que eu pudesse contar. Ninguém disposto a abrir mão do sono para ouvir minhas queixas. Ninguém que se importasse.'' - 13 Reasons Why
Um boato surge, uma foto é divulgada, corredores são preenchidos por vozes vazias que vociferam o quanto aquilo foi sujo... e a maldade se cria diante de pessoas que acham que não são culpadas. Mãos correm em busca de pedras que acertam pra valer, sangue escorre e o medo surge. Não importa qual foi sua ação, tenha em mente que sempre haverá uma reação. E será que você é capaz de lhe dar com essa reação?
As vitimas costumam se ver em um caminho sem volta. Uma passagem apenas de ida, e uma passagem muito cara. O agressor vê aquilo como brincadeira, não vê a verdadeira faceta daquilo, algo que pode explodir a qualquer momento e espalhar fragmentos por todos os lados. Diante de um trauma, a vítima geralmente luta contra aquilo, ou tenta correr ou apenas paralisa e deixa o ato acontecer porque já não tem mais força. É um circulo vicioso, onde o agressor vai causando ainda mais danos no sofredor.
As pessoas que estão passando ou já passaram por isso, sempre tem em mente que aquilo nunca vai acabar. Eles pensam que ninguém se importa com aquela dor, que aquela dor apenas vai doer ainda mais a cada dia, a cada pôr do sol. Tudo parece crescer e piorar a cada dia, aquele sofrimento vai apenas aumentando, cada vez que cresce mais vai apenas empurrando mais a pessoa contra-parede.
A dor é sentida e provocada de diversas formas. Seja ela por um amor, uma negligência, um aperto no cotidiano, uma amizade, bullying, ausência de pessoas próximas... seja lá o que for, sinais sempre são emitidos, e você que está lendo isso, precisa saber reconhecer esses sinais. Não negligencie mais essas pessoas que estão em busca de ajuda de alguma forma, vire para o lado, olhe no fundo dos olhos, busque a dor e tente afasta-la.
O suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens, divulgado por uma pesquisa. Isso é alarmante e triste. As pessoas da era contemporânea se prendem á um paradigma de que bullying não existe, afirmam e concretizam de que é apenas brincadeira de adolescentes, que é algo sem o intuito de machucar, entretanto eles não sabem ao certo o impacto que cada detalhe pode ter na vida do outro. Pessoas se mutilam, pessoas morrem, pessoas matam por causa disso. Não é de hoje que vemos o noticiário divulgar tragédias que logo mais tarde é descoberto que tudo aquilo foi motivado do bullying.
Suicídio é um assunto muito difícil e delicado de se falar, mas isso não o isenta de não ser posto em pauta. É o assunto que muitos não conseguem dizer sobre, mas que devem ser falados por todos. As vitimas que veem apenas o suicídio como opção, que não conseguem mais lutar contra aquilo e se veem paralisados, carregam uma carga emotiva muito grande e pesada, elas gritam sempre em busca de atenção, em busca de que alguém as ajude, de que alguém seja capaz o suficiente de atende-las para ajudá-las, mas nem sempre todos tem o talento de enxergar esses pequenos sinais, essas aparentemente pequenas reclamações mas grandes dores.
Nunca tive uma ligação tão forte com uma série como tive com esta. Nunca sofri tanto, nunca senti tanta dor com uma personagem como senti com Hannah Baker. A cada lágrima, a cada apunhalada era como se eu fosse um dos porquês que estava ali apenas como telespectador vendo o que estava acontecendo sem fazer nada. A minha dor foi aumentando quando vi o quanto eu queria estar ali com a Hannah para confortá-la, para dizer que aquilo tudo iria passar um dia e que eu estava ali com ela independente de cada lista, de cada boato, de cada palavrão. Eu só queria poder dar um abraço naquela garota e dizer que eu sentia muito por aquelas pessoas serem tão más. Foi um sofrimento tão grande assistir essa série, mas tão necessário que me acordou para diversos detalhes que estava acontecendo e eu ainda não tinha percebido.
A série possui uma grande carga de informação, é uma obra que trata este ato terrível de forma sincera e dolorosa, mas de forma que realmente deve ser retratada para ver se as pessoas acordam e parem de negligenciar isso o tempo todo. Você, que está lendo esse texto neste exato momento, vire para o lado, olhe sobre os muros, veja se há alguém lançando sinais, tente ajudá-los de alguma forma, orientando-o, sendo amigo, conversando... não deixe para depois, não deixe acontecer.
Talvez todos aqui já tenham sentido essa dor tão forte que vai se acumulando cada vez mais, mas que de certa forma conseguiram mandá-la embora. Quero que saiba que nem todos conseguem, quero que saiba que isso é uma dor real. Não fique calado numa situação dessas, não compactue com o agressor, não se sinta de que não há nada a ver com a vida da pessoa, pois na verdade você há. Lute contra isso, dê apoio, e o mais importante, nunca, jamais, seja um dos porquês. Aliás, quero pedir desculpa á todos se um dia eu já fui o seu porquê de alguma forma.
Você não pode mudar o passado, nem interromper o futuro, mas pode agir no presente. @ErickS
* CINEMATIZANDO é uma nova coluna que sua primeira edição foi lançada hoje e tem o propósito de opinarmos sobre os lançamentos do cinema. Vimos a grande oportunidade da primeira edição ser especial falando sobre algo polêmico e doloroso, e assim foi feito.
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